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quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Amores/ paixões platônicas

O tic tic insistente do despertador anunciava o início de mais um dia. Com um resmungo, Dária desligou-o. Muito a contragosto, levantou-se e se arrumou. Tinha de ir à aula.
Como de costume, pegou um ônibus. A escola não era tão distante assim, mas o suficiente para lhe dar preguiça.
E foi naquele dia que Dária compreendeu a efemeridade de bons momentos.
Ela jamais soube seu nome, mas o fato é que ele era lindíssimo, alto e bronzeado. Olhos castanhos, cabelos negros. Sentado sozinho em um assento na janela, Dária casualmente foi para o assento do outro lado do corredor que lhe permitia uma visão privilegiada de seu perfil. Dária apaixonou-se. "Meu Deus", pensou ela, com um riso silencioso e amargurado. "Combina perfeitamente com a patética figura que sou, apaixonar-se por um cara com quem jamais sequer conversou." Mas não podia evitar, paixões tem sua própria e insondável lógica, embora por vezes aparentem a ausência da mesma.
Dária apaixonou-se, mas além da própria timidez e insegurança quando gostava de alguém, um telefonema pôs a perder suas esperanças. O celular do garoto tocou. Palavrinhas de amor. Risos. "Como é bonito o riso dele! Franco, sincero, forte", pensou ela. Na verdade, provavelmente ele tinha um riso normal e comum de garoto, mas aos olhos da paixão, tudo adquire uma dimensão maior do que realmente tem, ou merece ter, ou teria, se a pessoa não estivesse apaixonada.
Já não bastasse sua timidez, insegurança e falta de jeito para chegar num garoto, escolher um tema interessante de conversa ou até simular um encontrão, agora havia a questão dos princípios. Dária sabia que seus escrúpulos simplesmente não permitiriam que ela investisse num garoto que tinha namorada. Suspirou.
"Discordo de Mário Quintana. Se as coisas são inatingíveis, sim, É motivo para não querê-las. Para que se torturar desejando o impossível? Só me resta esquecê-lo. Ao menos existe essa vantagem de ter um coração volúvel." Apesar de racionalmente pensar assim, o coração e os olhos eram outros quinhentos, e não pôde se impedir de admirar o garoto até seu ponto. Desceu do ônibus.
Dária por algum tempo se sentiu triste, e patética. "Minhas amigas não riem de mim, pois sabem que estou chateada e não são assim TÃO insensíveis. Mas vejo que quando puderem, rirão, e muito. Sacanas."
Transcorridas algumas semanas, porém, seu pensamento mudou, pois a razão vinha e chutava para longe a paixão. E chegou a conclusões que não supunha. "Foi uma paixão platônica.Mas, se você pensar, não são melhores essas paixões? Podem ser impossíveis. Podem nunca acontecer. Pode existir apenas na sua mente. Mas por isso, não acaba. É terna. É sincera. Não se deixa contaminar pela realidade. Você nunca vai brigar com o ser amado. Nunca vai escutar um 'Nunca mais quero te ver, sai da minha vida, cretina". Você pode sofrer por a pessoa não ter ciência da sua existência. Mas não sofrerá por ela te desprezar, odiar, ignorar fria e conscientemente. Vocês podem nunca serem amigos, mas ao menos, você não terá a dor de um dia tornarem-se apenas como estranhos bem-educados um com o outro. Ou mal educados. E até inimigos."
"Foi o amor que não aconteceu. Mas sabe-se lá se não foi melhor assim?"

xxx

Desenterrando uma crônica que escrevi pra escola, simplesmente para poder publicar em algum lugar minha teoria sobre a superioridade dos amores platônicos.
[ que não mantenho mais - amor real é mais...real. ]

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